sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Em uma das classes de Química Orgânica para alunos da Biologia, eu falei que a contribuição atual da química para a compreensão da origem da vida era muito pequena, e que a quantidade de informação na célula mais simples sobrepassa as possibilidades que existem no universo em termos de entropia, me dei conta que os textos atuais que tendem a “explicar” como a vida surgiu do ponto de vista químico focam em publicações antigas e refutadas, como o experimento de Miller-Urey ou com uma visão otimista, que apontam para um futuro que tudo será esclarecido.
Este otimismo não é compatível com o pensamento científico, em que a visão crítica em relação aos resultados obtidos por outros grupos de pesquisa e inclusive pelo próprio grupo de pesquisa é fundamental para que o conhecimento científico seja estabelecido com teses que passaram pelos mais variados testes. Contudo, as publicações científicas na química alertam para a dificuldade do tema, e a ideia que tudo seria rapidamente descoberto após os experimentos iniciais deu lugar ao reconhecimento da complexidade do assunto, e muitos afirmam que provavelmente não saberemos sobre esse processo.
É necessário reconhecer que a ciência tem os seus limites, definidos pelos dados empíricos. As teorias unem esses dados e guiam os experimentos e a busca de resultados para o bem da sociedade. Algumas teorias como o “campo unificado” ou os multiversos da Física podem estar acima da capacidade atual da ciência e ficarem no campo das hipóteses. Talvez a abiogênese esteja nesta mesma categoria.
Os pequenos resultados são elevados à categoria de grandes descobertas, e os experimentos que contradizem são relegados a segundo plano ou não são publicados. Entretanto, deve-se reconhecer que a abiogênese faz parte do naturalismo que é a visão predominante na ciência, e a alternativa não atrai a maioria dos pesquisadores, porque envolve algo que não é considerado pelo naturalismo, que é a hipótese que tenha havido um processo criativo no universo e a corrente que propõe essa linha é o “intelligent design”. Estas teorias são mutuamente excludentes, embora existam sobreposições como a evolução guiada.

O que um cientista que se volta para essa questão é saber quais as implicações que possam ser testadas para que se desenvolvam experiências que sejam esclarecedoras, mas as discussões neste ponto são muito mais exacerbadas do que outras, despertando as convicções mais íntimas.

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