Em uma das classes
de Química Orgânica para alunos da Biologia, eu falei que a
contribuição atual da química para a compreensão da origem da
vida era muito pequena, e que a quantidade de informação na célula
mais simples sobrepassa as possibilidades que existem no universo em
termos de entropia, me dei conta que os textos atuais que tendem a
“explicar” como a vida surgiu do ponto de vista químico focam em
publicações antigas e refutadas, como o experimento de Miller-Urey
ou com uma visão otimista, que apontam para um futuro que tudo será
esclarecido.
Este otimismo não é
compatível com o pensamento científico, em que a visão crítica em
relação aos resultados obtidos por outros grupos de pesquisa e
inclusive pelo próprio grupo de pesquisa é fundamental para que o
conhecimento científico seja estabelecido com teses que passaram
pelos mais variados testes. Contudo, as publicações científicas na
química alertam para a dificuldade do tema, e a ideia que tudo seria
rapidamente descoberto após os experimentos iniciais deu lugar ao
reconhecimento da complexidade do assunto, e muitos afirmam que
provavelmente não saberemos sobre esse processo.
É necessário
reconhecer que a ciência tem os seus limites, definidos pelos dados
empíricos. As teorias unem esses dados e guiam os experimentos e a
busca de resultados para o bem da sociedade. Algumas teorias como o
“campo unificado” ou os multiversos da Física podem estar acima
da capacidade atual da ciência e ficarem no campo das hipóteses.
Talvez a abiogênese esteja nesta mesma categoria.
Os pequenos
resultados são elevados à categoria de grandes descobertas, e os
experimentos que contradizem são relegados a segundo plano ou não
são publicados. Entretanto, deve-se reconhecer que a abiogênese faz
parte do naturalismo que é a visão predominante na ciência, e a
alternativa não atrai a maioria dos pesquisadores, porque envolve
algo que não é considerado pelo naturalismo, que é a hipótese que
tenha havido um processo criativo no universo e a corrente que propõe
essa linha é o “intelligent design”. Estas teorias são
mutuamente excludentes, embora existam sobreposições como a
evolução guiada.
O que um cientista
que se volta para essa questão é saber quais as implicações que
possam ser testadas para que se desenvolvam experiências que sejam
esclarecedoras, mas as discussões neste ponto são muito mais
exacerbadas do que outras, despertando as convicções mais íntimas.
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