segunda-feira, 3 de outubro de 2016

É só tirar água, aquecer e pronto...só que não

As proteínas são formadas pela condensação de aminoácidos resultando em polímeros, chamados peptídios. Um dos desafios para as hipóteses naturalistas da origem da vida é a explicação da formação dos aminoácidos e peptídios.
Diversos grupos têm-se dedicado às tentativas de obter peptídios a partir do aquecimento de aminoácidos com outros mineraisi e argilasii . Uma publicação de 2014 mostrou um sincero esforço usando condições anidras, temperaturas altas (ex: 150o C) e grandes concentrações de aminoácidos (>0,1 mol/L). Os resultados demonstraram que a argila montmorilonita catalisa a reação, contudo a proporção do dipeptídio gli-gli foi muito baixa (aproximadamente 1%), com o predomínio da forma cíclica.iii, que é o ponto final para o crescimento da cadeia.


Durante o período de aquecimento dos aminoácidos, observam-se perdas de cerca de 40% do aminoácido por desaminação (saída de NH3), descarboxilação (saída de CO2), desidratação (saída de H2O) e hidrólise (quebra por H2O).

Porém uma observação do comportamento da condensação térmica dos aminoácidos passa despercebida das análises dos artigos: após alguns dias de aquecimento, a quantidade do produto chega a um patamar estável.

A conclusão é que a reação chega a um equilíbrio entre reagentes e produtos, quando a velocidade de condensação é igual à velocidade de quebra da ligação peptídica, e conforme aumenta o número de peptídios ligado, a quebra se torna cada vez mais provável
Ou seja, seria necessário que houvesse grande quantidade de aminoácidos à disposição para que uma pequena fração formasse um produto que não seria de utilidade para a construção de proteínas, como as dicetopiperazinas, ou seja, grandes superfícies cobertas de aminoácidos sob altas temperaturas. A Terra deveria ser um tapete de aminoácidos, com os minerais à disposição para as reações, e com um grande depósito de lixo para os produtos indesejados. Os peptídios formados não teriam mais do que três aminoácidos ligados entre si.
Certamente este não é um panorama factível.


i Adv. Space Res. Vol. 27, No. 2, pp. 225-230, 2001 V.A. Basiuk and J. Sainz-Rojas Catalysis of peptide formation by inorganic oxides: high efficiency of alumina under mild conditions on the Earth-like planets
iiJ Mol Evol (1997) 45:457–466 Silica, Alumina, and Clay-Catalyzed Alanine Peptide Bond Formation Juraj Bujda´k,1 Bernd M. Rode2

iiiFuchida, S., Masuda, H. & Shinoda, K. Orig Life Evol Biosph (2014) 44: 13. doi:10.1007/s11084-014-9359-4

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